Hoje, infelizmente, o declínio da relação médico-paciente é o maior motivador de disputas judiciais, gerado principalmente pela ausência do bom e velho diálogo, tão necessário para estreitar os laços de confiança.
Sem conversa, sem diálogo, sem esclarecimentos, cria-se um hiato significativo na relação, a ponto de o paciente, muitas vezes sem razão, imputar ao médico a culpa por todo e qualquer problema de saúde que tiver.
E é nessa atmosfera de desconfiança que inúmeros médicos, altamente capacitados e diligentes, respondem processos indenizatórios, criminais e éticos.
Mas este pesado cenário pode ser atenuado consideravelmente se o médico prezar por condutas que estimulem o bom relacionamento com seus pacientes/familiares/acompanhantes.
Para este intento, elencamos algumas medidas simples, mas que fazem a diferença, a saber:
1. Esclarecer o paciente ou responsável, a fim de que não haja interpretações equivocadas em caso de um possível mau resultado. Assim, explicar os detalhes da doença e do tratamento (diagnóstico, prognóstico, opções terapêuticas, riscos, limitações da ciência);
2. Certificar o paciente sobre eventual evento adverso, para que este compreenda o que ocorreu, evitando, assim, que sejam levantadas suspeitas quanto ao trabalho desenvolvido;
3. Intervir rapidamente se houver intercorrências, expondo o caso para a família;
4. Demonstrar interesse no caso, e empenho para resolvê-lo, pois assim, paciente e familiares ficarão convictos que o profissional empregou todos os seus esforços para atingir a cura ou melhora do paciente;
5. Valorizar as queixas do doente, dando-lhe respostas ou caminhos diagnósticos para identificar a causa dos sintomas relatados;
6. Despender um tempo razoável na consulta, com anamnese e exame clínico aprofundados (isso transmite confiança ao paciente);
7. Retornar as ligações com a maior brevidade possível;
8- Em caso de viagem programada, avisar o paciente que está em tratamento, sempre disponibilizando um médico substituto (essa falha de comunicação pode ser interpretada como negligência);
9- Ser paciente, amigável e diplomático, mesmo que o momento desafie o contrário;
10- Orientar e educar constantemente o corpo de paramédicos e demais colaboradores (como recepcionistas), no que toca ao atendimento ao cliente, preparando-os, além, disso, para as mais variadas situações. Uma secretária que não transmite o recado ou que trata o paciente com rispidez, por ex., pode comprometer a percepção da qualidade do serviço e, por consequência, provocar o inconformismo do paciente, culminando, portanto, em questionamentos judiciais.
O paciente que recebe um atendimento humanizado e de excelência, fica até constrangido em se voltar contra o profissional, mesmo que haja indícios de má prática médica.
Por outro lado, o paciente zangado, com razão ou sem razão, não terá nenhuma barreira ou constrangimento para processar o médico.
Enfim, seguindo as orientações de bem atender descritas acima (sem excluir outras não menos importantes) diminui-se o risco de o paciente ou familiar ajuizar uma ação judicial (em face do médico ou da Instituição de saúde), sendo, portanto, uma ferramenta indispensável de prevenção de riscos jurídicos e éticos.
Giovanna Trad, advogada, sócia do Trad & Cavalcanti, especialista em Direito Médico e da Saúde, Presidente da Comissão de Biodireito da OAB/MS.